terça-feira, 5 de maio de 2009

Saudades.



Eu vivo com medo de um dia receber um telefonema pra dizer que alguém morreu. É meio doentio esse meu medo, mas infelizmente é o que sinto. Toda vez que eu tô em casa e o telefone toca, antes de eu ou alguém atender, eu fico rezando pra Deus, pra não ser uma notícia ruim, de que alguém morreu. Eu rezo com toda a minha força.

Quando eu tô na rua e os meus pais me ligam, eu rezo mais ainda, porque eles NUNCA me ligam, então eu fico morrendo de medo de ser alguma notícia ruim. Hoje eu liguei pro papai pra pedir um favor, então eu achei normal - e nem rezei - quando a mamãe telefonou pra mim. Pensei que fosse algo relacionado ao favor. Mas não era.

Ela me ligou chorando, dizendo que uma amiga nossa tinha morrido.

Bom, a Veila morreu ontem. Fazia tempo que não nos encontrávamos, quase um ano. Mas eu tô aqui pra me morrer por dentro só de pensar na falta que vai fazer a alegria dela nas nossas vidas. Porque ela, boa moleca-doida que era, sumia sempre, mas quando aparecia era uma felicidade que só vendo.

A Veila tinha 35 anos, era lésbica, motoqueira e alegre até a última gota de alma. A gente se conheceu num festival de música em Belém, em agosto de 2004. Nós, eu e a minha irmã, falamos dela pros nosso pais. Quando chegou em dezembro, nos encontramos em Algodoal, no reveillon. Ela ficou apaixonada pelos meus pais porque eles não neuraram de eu e a minha irmã, duas meninas inocentes, fazermos amizade com ela e com a namorada dela na época, a Samantha. MAS É LÓGICO que meus pais não iam neurar, eles são maravilhosos! Mas ela não sabia disso, e como já devia ter sofrido muito preconceito, ficou encantada com eles. Foi tão lindo a sintonia entre nós!

A Veila participou de vários momentos importantes da minha vida, ela sempre tentava se fazer presente, ser amiga. Conselhos, ela não podia dar muitos, porque era moleca-doida lá não muito exemplar. Mas sempre tava lá.

Se separou da Samantha, e veio chorar as dores pra gente. Tadinha, chega dava dó. Ia lá pra casa só pra ficar porre com o papai. Tava morrendo por dentro, muito triste, mas era só sorrisos.

Arranjou umas vinte namoradas e quando nos encontrávamos por aí, sempre pedia a minha opinião. HAHA. Era muito engraçado, porque se eu falasse que não gostava, ela falava que só ia comer, e depois dar um pé na bunda.

A última vez que nos vimos foi ano passado. Eu tava num turbilhão de sentimentos fudido, super-feliz e super-triste, com um intervalo muito pequeno entre essas duas emoções. Já tinha rodado Belém toda, curtindo, e tava esperando o bonde, quando ela passou na moto, com a última namoradinha, e buzinou. Já era 22h e ela me convidou pra ir pra Icoaraci, que depois ela me deixava em casa. Foi tão legal e irreponsável, nós três andando de moto. (O papai me esculhambou depois, quando eu contei). Égua, foi uma cagada eterna! Mas foi perfeito. Nós curtimos tanto, dançamos brega, forró, carimbó. Ficamos no meio da bagaça. E ela sempre muito mãezona comigo, apesar de ficar toda hora imitando neném. HAHA. Só sei que ela foi me deixar em casa já era quase duas horas da manhã. Eu tava super-ouvindo naquela época Vanessa da Mata! E fomos super-cantando as músicas na moto, a namoradinha dela dormindo. O vento batendo na cara, choveu um pouquinho. Quando chegou em casa, eu dei um abração nela e falei: "Égua, amiga, obrigada por salvar minha noite!". Ela foi embora, e foi a última vez que nos vimos.

A mamãe me ligou pra dizer que ela sofreu um acidente de moto, ontem, e morreu. Eu nem sei nem o que pensar, só sei que dentro de mim ela sempre vai viver, cheia de alegria. A minha querida amiga. :~

(Cuida dela, Papai do Céu)

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