terça-feira, 13 de outubro de 2009

A promessa.



Neste Círio de 2009 fez um calor quase insuportável, mas, por eu estar toda molhada, se ficasse na sombra, morria de frio. No Círio é o único dia do ano que nós tomamos banho de água mineral; e esse é um motivo de riso gostoso, para nós, promesseiros da corda. O calor dos corpos colados uns aos outros é muito grande, e só é aliviado com uma boa dose de água mineral (esta é a promessa de outros tipos de promesseiros, aqueles que levam seus carros ou caminhões fretados para as transversais da Presidente Vargas e da Nazaré e ficam dando água pra gente). É tão lindo, estar na corda. Uma hora a gente ri, em outra, a gente chora; mais adiante a gente ri e chora. Todos são iguais, todos são irmãos, filhos da mesma mãe, a Nazinha. A gente vê cada marmanjo chorando, que dá até vontade de rir. A gente ouve cada história, que a gente chora junto, como se fosse com a gente mesmo. Tem gente de tudo quanto é tipo. Tem aquelas pessoas que vão na corda há 30 anos, tem aquelas que estão indo pela primeira vez. Tem gente agradecendo pelo vestibular, tem gente agradecendo a cura de um cancêr. Tem gente que ainda nem conseguiu a graça, mas que tem que ir na corda pra se sentir protegido, amparado pela nossa Mãezinha. Tem gente grande, tem gente pequena. Tem homem, tem mulher. E, ainda assim, são todos iguais. "Nossa Senhora, pode esperar, que a tua coda vai chegar!" é o nosso grito de guerra. E, nesse embalo, a gente vai puxando a corda até onde der. Digo onde der porque já não nos permitem seguir até o CAN com a corda. Do nada, ainda nem ultrapassamos a primeira metade da avenida Nazaré, aparecem algumas pessoas com facas, canivetes e todos os tipos de objetos cortantes, para cortar a corda. Esse ano até chorei de susto, porque cortaram a corda logo atrás de mim. Houve muita briga e eu fiquei morrendo de medo que alguém perdesse a cabeça e acabasse ferindo o irmão. Graças a Deus e a Nazica, tudo terminou bem. Continuei seguindo do lado dos pedaços de corda que restaram, mas quando chegou ali na Benjamin, eu vi que já era, que a corda havia sido cortada em mil pedacinhos, e que não ia adiantar nada eu ficar entando entrar novamente na corda: havia acabado aquela promessa. Fui andando pro CAN, pela Braz de Aguiar. Quando cheguei lá ainda não eram 11h; me sentei na frente do IAP e esperei a Naza chegar. Acho que por volta das 11h30, a berlinda despontou. Que coisa linda, meu Deus! Tantos fogos, chuva de papel picado, chuva de pétalas de rosas, os sinos da Basílica tocando "Vós sois o Lírio Mimoso". Ah, ninguém segura a emoção nessa hora! As mãos todas levantadas pedindo a benção de Nossa Senhora de Nazaré. Putz! Esperei abrirem a Basílica, então entrei pra pagar a segunda parte da minha promessa, que é ir até o altar de joelhos. Doeu bastante, eu vi vários dos meus irmãos desistirem no meio do caminho, porque estava muito cheio e estava demorando demais para chegarmos lá, mas eu consegui chegar. Consegui e chorei aos pés da minha Mãe, agradeci e pedim por mim, pelos meus e pela minha cidade. Então, eu fui pro Can pagar a terceira e última parte da minha promessa. Nossa! Essa parte foi horrível, não sei nem onde consegui forças... Eles trocaram aquele tapete felpudo por um tapete de nylon. Por estar muito sol, o tapete estava queimando nossos joelhos. E estava muito cheio, o que fazia com que nós ficassêmos mais tempo esperando, de joelhos, naquele tapete vermelho em brasa. Nossa, foi muito doloroso, mas eu estava me sentindo tão feliz, porque uma mocinha me segurou pela mão e só me soltou quando eu consegui chegar lá no altar. Um outra moça me ajudou muito, comprou água pra molhar meus joelhos e fez sombra com uma abanador, no meu rosto. Nossa, esse ano foi a vez que eu paguei a promessa com mais sacrifício, porque eu realmente quase não estava aguentando. Só consegui chegar até lá porque essas duas moças me deram força. Quando eu estava subindo a escada, de joelhos, eu ainda tive forças pra ajudar uma senhora que estava quase desmaiando, e me senti extremamente bem com isso. Um médico da Cruz Vermelha veio me ajudar, porque eu não tava conseguindo respirar direito, já na reta final. Quando eu cheguei de novo aos pés da minha Mãe, da imagem peregrina, eu só disse três palavras: "Obrigada, minha Mãe!". Quase não consegui me levantar, tive que ser amparada por alguns instantes, mas depois recobrei as forças e fui me embora feliz da vida.

.:.

Tem muita gente que não entende e até mesmo critica esse tipo de sacrifício, de promessa. Pra essas pessoas, eu só posso dizer que ninguém no mundo é capaz de explicar este tipo de manifestação. Triste daquele que vive sem fé.

(Muito, muito, muuuuito triste)

5 comentários:

  1. Tá certo que não é minha religião. Mas eu sempre me emociono com a demonstração de fé que observamos no Círio.
    E tenho que dizer, que foi inevitável uma ponta de lágrima de emoção, surgida ao ler isso aqui.
    Beijo, Lo.

    ResponderExcluir
  2. Que lindo isso. Me emocionei. Sabes que não sou católica, mas qualquer tipo de fé me emociona.
    No arrastão já achei lindo te ver naquela hora, imagina te ver no Círio...
    E espero que teus pedidos sejam todos atendidos!
    =)

    Beijo e fica com Deus.

    ResponderExcluir
  3. Ulha, Maruzo e eu pensamos e escrevemos igual ao mesmo tempo.
    hihi
    Isso mostra que fé é indepenente de religião mesmo.

    ResponderExcluir
  4. Parabens pela tua fé.Tua crença é a tua força de vida!
    bjus no coração e que teus pedidos sejam alcançados!

    bjs bjs bjs bjs...

    ResponderExcluir
  5. Concordo em gênero, número e grau com os quatro aí de cima. Não tem como não ser tocado pela demonstração de fé que cada uma dessas pessoas possui. Confesso q me emocionei tbm com esse teu texto. Tu consegues passar todo esse sentimento através das palavras.
    Lindo, muito lindo mesmo.

    Pode ter certeza q vais alcançar teus pedidos. Beijos, flor. ;*

    ResponderExcluir